Um dado muito importante: temos 7 milhões de pessoas com deficiência visual e apenas 200 cães-guias no Brasil!
A Zen Animal entrevistou George Thomaz Harrison que é psicólogo, adestrador e instrutor de cão-guia. George é referência em formação de cães-guias no Brasil, atualmente ele trabalha no Instituto Magnus.
Agora vamos aprender mais sobre cão-guia com as diversas perguntas respondidas pelo George Cão Guia Brasil para a Zen Animal. Confira!
Como se descobriu que os cães poderiam ser cães-guias?
Existem relatos muito antigos de pinturas encontradas em paredes em Roma mostrando pessoas se apoiando em animais para poderem se locomover, com venda nos olhos, com alguma indicação de que aquela pessoa não enxergava. Mas a sistematização e a popularização começou com a norte-americana Dorothy Eustins que treinou um cachorro para o milionário americano e cego, Morris Frank. A partir daí o cão-guia ficou conhecido no mundo todo.
Quais raças de cachorro podem ser um cão-guia?
No mundo há diversas raças que podem ser utilizadas como cão-guia, mas as mais populares são labrador, golden retriever ou o mix dessas raças. É preciso analisar o país onde o cachorro está sendo treinado, pelas condições sócio geográficas e demográficas de cada país isso tudo interfere na escolha da raça. São mais de 30 raças que podem ser usadas como cão-guia, sendo as mais tradicionais as que citei anteriormente.
Como é feita a seleção de um cachorro para ser um cão-guia?
Na verdade, começa ainda filhote ou até mesmo antes dele nascer! É selecionado pai, mãe, e verificado avós para entender toda a parte genética e de saúde desses animais para saber se existem doenças degenerativas, como por exemplo displasia. Após isso, é feita a cruza. Já filhote, a gente faz alguns testes no cachorro para verificar se há nele algum desvio de comportamento. Não tendo, ele é colocado no programa de socialização e é iniciado o treinamento para ser um cão-guia.
Qual o critério utilizado para a escolha do cão que auxiliará uma pessoa com deficiência visual?
É feita uma reunião chamada reunião de match. Nela estarão os cães adultos e treinados por nós e a pessoa que está à espera de um cão-guia. Então, analisamos as questões físicas, comportamentais e a interação de cada cão com a pessoa com deficiência visual. Depois disso, a gente faz o casamento arranjado objetivando o sucesso na adaptação dos dois.
Em relação ao tempo, quanto demora para que um cão se torne um cão-guia?
O tempo que leva para um cão-guia ficar pronto é de aproximadamente 2 anos. Pode até ser um pouco menos ou ser um pouco mais, levando em consideração a socialização do cachorro depois do período de treinamento.
Pode brincar ou interagir com o cão-guia quando ele está trabalhando?
Não recomendamos mexer com o cão-guia quando ele estiver trabalhando. Ele pode se distrair e acabar machucando a pessoa com deficiência visual que estiver sendo guiada. Sem querer, essa atitude de brincar com o cão pode causar algum acidente. O ideal é perguntar para o tutor se pode mexer com o cachorro.
Quanto tempo um cão-guia fica com o seu tutor?
Ele fica com a pessoa com deficiência visual aproximadamente 10 anos, podendo ser um pouco menos ou um pouco mais, depende de cada cachorro. Tem cachorro que trabalha menos tempo e tem cachorro que trabalha mais. Nós, profissionais do Instituto, damos todo suporte e vamos acompanhando o envelhecimento do cachorro para poder indicar a aposentadoria dele. Isso é sempre verificado com o corpo técnico, com os instrutores e com a equipe de saúde para ver se está na hora ou não do cachorro ser aposentado.
Ainda há muitas dificuldades para um cão-guia e seu tutor acessarem determinados estabelecimentos?
Sim, mas já melhorou muito. Ainda acontecem problemas tanto com as famílias socializadoras, quanto com as pessoas com deficiência visual. Com os treinadores também acontece, mas vem diminuindo muito porque nós no Instituto Magnus fazemos um trabalho muito grande de conscientização para que esses problemas diminuam. Nós temos um setor focado no relacionamento com a sociedade exatamente para que esses problemas não aconteçam.
Como é feita a socialização de um cão-guia?
É por meio de uma família voluntária que recebe e cuida do cão no primeiro ano de vida dele. O Instituto Magnus oferece todo o suporte de alimentação, medicamentos, assistência médica veterinária e tudo que o cachorro precisar para se desenvolver. O instituto arca com tudo isso, não tem custo nenhum para a família socializadora. Essa família terá os mesmos direitos da pessoa com deficiência visual e nós instrutores e treinadores, de estar em todo o local público ou privado de uso coletivo, isso inclui transporte público como carro de aplicativo, ônibus, táxi, metrô, balsa e avião.
George, quais são as considerações finais você deixa para nós?
O recado que eu tenho para deixar é que estamos sempre precisando de família socializadora. Estamos na região de Maricá e Niterói, no estado do Rio de Janeiro e Salto de Pirapora e Sorocaba, no estado de São Paulo. Precisamos muito de famílias voluntárias para participar do programa de treinamento de cães-guias. É uma ação que a gente deve divulgar e abraçar. Uma ação que faz bem para a gente e para a sociedade como um todo, é inclusão social para as pessoas com deficiência visual. Lembrando, hoje são 200 cães-guias para 7 milhões de pessoas!
Para assistir a entrevista na íntegra clique aqui.
Anualmente na última quarta-feira de abril comemora-se o Dia Internacional do Cão-Guia, data para celebrar a existência desses heróis que colaboram com a inclusão e são os olhos de quem tem algum tipo de deficiência visual.
Entrevista e transcrição feitas por Lorena Tassara, CEO da Zen Animal e mamain da Ameixa Pop.
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